Cavalos de Troia nas propriedades rurais

Cavalos de Troia nas propriedades rurais

Uma nova investigação do ETC Group* [1] mostra que a digitalização está progressivamente entrando nas propriedades agrícolas, grandes e pequenas, de todo o mundo. Ela vem disfarçada como um sedutor insumo de alta tecnologia, um cavalo de Troia, com frotas de drones, tratores inteligentes “dirigidos por dados”, aplicativos e sensores sofisticados. Mas no ventre da besta está o enorme setor empresarial do agronegócio que uniu forças com os gigantes da Big Data para fortalecer seu controle sobre os sistemas alimentares.

O documento da investigação, intitulado “Cavalos de Troia na Propriedade Rural: desafiando a digitalização da cadeia agroalimentar”, é oferecido como um recurso aos movimentos sociais, fornecendo informações e perspectivas para fomentar a reflexão e ação sobre estas questões complexas. Concluímos que a implementação de tecnologias digitais numa vasta gama de setores agrícolas e alimentares corre o risco de ser profundamente prejudicial, uma vez que muitos agricultores, produtores de alimentos e trabalhadores do setor alimentar serão provavelmente afetados de formas inesperadas.

Para ser claro, a questão não reside nos prós e contras de tecnologias individuais ou na utilização de plataformas de comunicação digital, ou em dispositivos digitais que possam ser utilizados na produção alimentar, tais como sensores de temperatura ou umidade, ou rastreadores de gado. O problema é o modelo de negócio extrativista no qual estão sendo implementados: este modelo de “Big Data” é uma fera muito diferente.

Nosso artigo mostra que a agricultura digital vem associada a um preço alto. Os agricultores que entram na agricultura digital corporativa geralmente têm que assinar um contrato com uma empresa, forçando-os a comprar sementes e agroquímicos dessa mesma empresa, a implementar seus “conselhos”e a dar acesso livre aos seus dados. Conscientemente ou não, eles permitem uma vigilância rigorosa de suas práticas agrícolas, do seu ambiente e de cada movimento que fazem.

Como resultado, os agricultores perdem autonomia e conhecimento. Tornam-se meros implementadores das agendas das empresas detentoras das tecnologias. Isto vai completamente contra as propostas da soberania alimentar, que se baseiam nas comunidades controlando a forma como os alimentos são produzidos, comercializados e consumidos.

Assista o vídeo que discute esse assunto.


    • O Grupo ETC monitoriza o impacto das tecnologias emergentes e das estratégias empresariais na biodiversidade, na agricultura e nos direitos humanos.
    ↩︎
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Oi,

Em relação a esse tema, encontrei o site de um Grupo de Cambridge que discute a relação entre tecnologia informática e a sociedade contemporânea:

O “Minderoo Centre for Technology and Democracy” é uma equipe independente de pesquisadores da Universidade de Cambridge que está repensando radicalmente as relações de poder entre as tecnologias digitais, a sociedade e o nosso planeta.

Temas como a mercantilização do ciclo menstrual (usando aplicativos de rastreio), o custo ambiental da desenfreada transferência de dados atual, ética, confiança pública, lucro, renda (patentes, licenças de software e hardware), equidade são discutidos em diversas informações disponíveis no site.

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